Passagem (poema)

Passagem

Estou indo.
Espere-me onde o rio dobra com tanta força
que as margens sangram nossas promessas
nunca ditas

Estou a caminho.
Espere-me sob a oliveira que torce a si mesma
que nos cobriu e amou com sua sombra
e amou como a mãe que cobre o filho
e amou como o irmão que cobre o irmão
e amou com sua sombra
quando nos amávamos sem nos cobrir

Acho que estou partindo.
Amarrei uma ponta de fio da camisa numa pedra
e a saudade estica no meu andar

Mas a malha afina.
O amor trançado
desfaz-se numa saudade esguia
até aquela ponta cansar de sonhar
de segurar
de desejar

E nosso cheiro descosturar pela camisa.

Mas me espere.
Entre a humanidade e a solidão
aquela terra talvez possa
nos permitir outra vez

que amores atravessados
partidos
reconstituídos
reconciliados
realizados
aquela terra sempre germina

Gabriel Lourenço

03-05-2013

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